O século XX se tornou para a Espanha um tempo de mudanças dramáticas, turbulências políticas, guerra civil e ditadura, assim como o tão aguardado retorno à democracia e integração na comunidade europeia. Durante este período, a Espanha passou de uma monarquia por meio de uma república e ditadura até a moderna monarquia constitucional. No século XXI, a Espanha se tornou uma das principais democracias da Europa, desempenhando um papel importante na vida política e cultural da região.
O início do século XX na Espanha foi marcado por conflitos internos e fraqueza do poder central. A monarquia espanhola sob a liderança de Alfonso XIII enfrentava crescentes problemas sociais e políticos. A defasagem econômica, a instabilidade política e o crescente descontentamento entre diferentes camadas da população ameaçavam a ordem interna.
A Espanha também sofreu uma derrota na Guerra Hispano-Americana (1898), que resultou na perda das últimas grandes colônias — Cuba, Filipinas e Porto Rico. Isso foi um golpe significativo para o orgulho nacional e privou o país de fontes de riqueza e influência no exterior. Em resposta a essas crises, dentro da Espanha começaram a crescer os pedidos de reformas e mudanças.
Em 1931, após um longo período de tensão social e política, o rei Alfonso XIII deixou a Espanha, e a Segunda República Espanhola foi proclamada. A república se tornou um símbolo de esperança para reformas progressistas, democratização e modernização do país. Foram feitas tentativas de reformar o setor agrário, o exército e a igreja, além de conceder mais direitos às autonomias regionais.
No entanto, essas mudanças geraram uma forte resistência por parte das forças conservadoras, especialmente entre monarquistas, a igreja e o exército. Ao mesmo tempo, os republicanos estavam divididos entre elementos moderados e radicais, o que levou a profundas divergências políticas. O conflito de interesses entre as forças de direita e de esquerda se intensificou, o que acabou resultando na Guerra Civil.
A Guerra Civil Espanhola, que começou em 1936, se tornou uma das guerras mais sangrentas e destrutivas da Europa entre as guerras mundiais. O conflito surgiu entre os republicanos, que apoiavam o governo democrático, e os nacionalistas, liderados pelo general Francisco Franco, que buscava estabelecer uma ditadura. A guerra dividiu o país, famílias e comunidades em dois campos.
A guerra atraiu a atenção da comunidade internacional, e ambos os lados recebiam apoio de outros países: os republicanos foram apoiados pela União Soviética e brigadas internacionais de voluntários, enquanto os nacionalistas receberam ajuda dos regimes fascistas da Alemanha e da Itália. A vitória de Franco em 1939 marcou o fim da República e o início de um regime autoritário que duraria várias décadas.
Após a vitória na guerra civil, Francisco Franco estabeleceu um regime autoritário brutal, que durou de 1939 a 1975. Esse período é conhecido como ditadura franquista. Franco concentrou o poder absoluto em suas mãos e realizou repressões severas contra opositores políticos. Milhares de pessoas foram presas, executadas ou obrigadas a deixar o país.
A política econômica de Franco foi orientada para o autoisolamento e controle estatal, o que levou à estagnação e defasagem nos primeiros anos de seu governo. No entanto, na década de 1950, o regime começou reformas econômicas graduais, levando a um rápido crescimento econômico na década de 1960, conhecido como o "milagre econômico espanhol". Isso foi possibilitado por investimentos estrangeiros, turismo e liberalização da economia.
Embora o regime de Franco tenha causado críticas internacionais, a Espanha manteve neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial, permitindo que o país evitasse destruições e ocupações. No entanto, o isolamento político e a ditadura retardaram a modernização do país e sua integração na comunidade internacional.
Após a morte de Franco em 1975, a Espanha entrou em um período de transição para a democracia, conhecido como "La Transición". A restauração da monarquia foi um dos momentos-chave desse período. O rei Juan Carlos I, que foi nomeado por Franco como seu sucessor, desempenhou um papel decisivo na transição do país para a democracia.
Juan Carlos I, desafiando as expectativas dos círculos conservadores, apoiou reformas e a democratização do país. Em 1978, a nova Constituição da Espanha foi aprovada, proclamando o país como uma democracia parlamentar com monarquia constitucional. A Espanha também garantiu os direitos das autonomias regionais, como Catalunha e País Basco, o que ajudou a atenuar as tensões internas.
O período de transição foi marcado por intensa luta política, tentativas de golpe e violência de grupos radicais, como a ETA. Contudo, os espanhóis demonstraram seu compromisso com a democracia, e em 1982, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), liderado por Felipe González, venceu as eleições gerais, consolidando definitivamente as instituições democráticas.
Em 1986, a Espanha se tornou oficialmente membro da Comunidade Econômica Europeia (atualmente União Europeia), um passo importante em sua integração econômica e política na Europa. A adesão à UE proporcionou à Espanha acesso a mercados, investimentos e subsídios, acelerando significativamente a modernização da sua economia e infraestrutura.
A Espanha também desempenhou um papel ativo na política internacional, apoiando o processo de integração europeia e a cooperação com outros países. Cidades espanholas, como Barcelona e Madri, tornaram-se centros culturais e econômicos da Europa, atraindo milhões de turistas e investidores.
A economia da Espanha enfrentou períodos de crescimento acelerado, especialmente na década de 1990 e início dos anos 2000. A construção, o turismo e os investimentos estrangeiros desempenharam um papel importante na criação de novos empregos e crescimento do PIB. No entanto, a crise econômica global de 2008 teve um impacto sério na Espanha, ocasionando altas taxas de desemprego e uma crise da dívida.
Um dos principais problemas da Espanha moderna continua a ser a questão da autonomia regional e independência, especialmente na Catalunha. Em 2017, as autoridades catalãs realizaram um referendo sobre a independência, apesar da proibição do governo central e do tribunal constitucional. A tentativa de proclamada independência gerou uma profunda crise política no país.
A crise catalã acentuou as contradições entre os apoiadores da independência e aqueles que defendem a unidade da Espanha. Em resposta às ações dos separatistas catalães, o governo central suspendeu temporariamente a autonomia da região e implementou o governo direto. A questão do futuro da Catalunha continua sem solução e continua a afetar a vida política do país.
Apesar dos problemas, a Espanha continua a ser um dos principais países europeus com uma economia desenvolvida e um alto padrão de vida. O turismo ainda desempenha um papel importante na economia, atraindo milhões de visitantes anualmente. A cultura espanhola, seu rico patrimônio histórico e a gastronomia tornam o país um dos mais atraentes para turistas.
No cenário político do país após os anos 2010, a Espanha enfrentou o crescimento de novos partidos, como Podemos e Ciudadanos, mudando o tradicional equilíbrio bipartidário entre o Partido Socialista e o Partido Popular. A fragmentação política criou condições complexas para a formação de governos de coalizão estáveis, no entanto, a Espanha continua a manter seu curso democrático.
O século XX se tornou para a Espanha um tempo de grandes mudanças — da monarquia, passando pela república e ditadura até a moderna democracia. Hoje, a Espanha é um país estável e democrático, integrado à União Europeia e desempenhando um papel importante na arena internacional. O país continua enfrentando desafios, como dificuldades econômicas e a questão da independência catalã, mas suas instituições democráticas e patrimônio cultural fazem da Espanha um jogador importante na política e cultura mundial.