O sistema governamental da Arábia Saudita, um dos países-chave do Oriente Médio, passou por um longo caminho de evolução que moldou sua estrutura política e administrativa. Desde o surgimento das tribos árabes e os primeiros governos islâmicos até o moderno regime monárquico absoluto, o país passou por muitas mudanças que refletem tanto transformações internas quanto a influência de fatores externos. Vamos examinar as etapas da evolução do sistema governamental da Arábia Saudita, desde suas origens até os dias atuais.
Durante os primeiros séculos da história da Península Arábica, as principais formações políticas eram alianças tribais, cada uma com seu próprio sistema de gestão. As tribos na Arábia Saudita viviam em condições de nomadismo, e o poder era descentralizado, concentrando-se nas mãos de anciãos e líderes.
No entanto, o islamismo, que surgiu no século VII, se tornou um catalisador para mudanças significativas. O profeta Maomé criou o primeiro centro político e religioso de pensadores afins, que deu início à unificação das tribos árabes e à criação dos primeiros estados islâmicos. Após a morte de Maomé, o poder no mundo muçulmano passou para os califas, que se tornaram a base para a formação de um poder mais centralizado no mundo islâmico.
A Arábia Saudita como um estado unificado começou sua história no século XVIII com a fundação do primeiro Estado Saudita. Em 1744, o xeque Muhammad ibn Abd al-Wahhab formou uma aliança com o governante local, Muhammad ibn Saud. Essa aliança desempenhou um papel crucial na formação de um estado islâmico, baseado na rígida adesão ao ensinamento do wahhabismo — uma ideologia religiosa que se tornou a ideologia oficial do país.
O primeiro Estado Saudita existiu de 1744 a 1818, mas foi destruído durante a invasão otomana. No entanto, graças às ideias e à liderança dos Saud, o wahhabismo e a dinastia saudita continuaram a influenciar o desenvolvimento político da região.
Na segunda metade do século XIX, a dinastia saudita reviveu sua influência, iniciando a luta pelo controle da Península Arábica. Em 1902, Abdulaziz ibn Saud, um dos descendentes do fundador da dinastia, capturou Riade, retornando ao poder político. Suas ambições de unificar as terras árabes utilizando tanto a força militar quanto a autoridade religiosa do wahhabismo levaram à criação de um novo estado.
Após décadas de luta e muitas conquistas, Abdulaziz proclamou a criação do Reino da Arábia Saudita em 1932. Ele se tornou o primeiro rei do país, dando início ao moderno sistema político.
A criação da Arábia Saudita como um estado unificado resultou no estabelecimento de uma monarquia absoluta. Abdulaziz ibn Saud concentrou em suas mãos todas as funções chave do poder, desde a executiva até a judiciária. Usando sabiamente a legitimação religiosa do wahhabismo, ele também mantinha uma forte ligação com as tribos locais, garantindo estabilidade em seu governo.
O sistema político da Arábia Saudita permaneceu uma monarquia absoluta mesmo após a morte de Abdulaziz em 1953. Seus filhos continuaram a governar, mantendo um modelo político baseado em uma hierarquia rígida, onde o rei e sua família desempenhavam um papel central. Esse governo se baseava nos princípios do wahhabismo, tornando o poder religioso uma parte integrante da estrutura política do país.
A partir do início da década de 1970, a Arábia Saudita iniciou um processo de modernização. A descoberta de grandes reservas de petróleo no país na década de 1930 assegurou seu prosperidade econômica, permitindo ao governo investir em infraestrutura, educação, saúde e outros setores. A receita do petróleo se tornou a base para a criação de cidades modernas e uma economia robusta.
No entanto, apesar dos sucessos econômicos, o sistema político permaneceu inalterado. Os reis da Arábia Saudita continuaram a governar com poder absoluto, sem reformas políticas significativas. Durante todo esse tempo, uma rígida censura vigia o país, e a oposição política foi praticamente completamente silenciada.
O rei Abdallah ibn Abaziz, que subiu ao trono em 2005, tornou-se um dos monarcas sauditas mais conhecidos, iniciando reformas em várias áreas da vida. Sob sua liderança, foram feitas tentativas para modernizar o sistema político. Em 2005, a Arábia Saudita realizou pela primeira vez eleições em nível local, embora essas eleições não tenham concedido poder real às autoridades locais.
Também sob Abdallah, medidas foram tomadas para melhorar a posição das mulheres na sociedade. Embora a Arábia Saudita continuasse a ser um estado islâmico estrito, a partir da década de 2010, começaram a ser dados passos para reduzir as restrições às mulheres, incluindo a possibilidade de conduzir, participar de eleições e trabalhar em alguns setores.
Após a morte do rei Abdallah em 2015, o poder passou para seu irmão Salman ibn Abdulaziz. O novo monarca continuou a trajetória das reformas, mas também enfrentou novos desafios, incluindo a queda dos preços do petróleo e a necessidade de diversificação da economia. Um dos maiores projetos foi a iniciativa "Visão 2030", voltada para diminuir a dependência do petróleo e desenvolver outros setores da economia, como turismo, tecnologia e infraestrutura.
Com a introdução da "Visão 2030", o rei Salman também se concentrou em aumentar o papel das mulheres na sociedade, além de melhorar a seguridade social e apoiar pequenas e médias empresas. No entanto, apesar desses passos progressistas, o sistema político permaneceu monárquico, e mudanças significativas na liberdade política ou direitos humanos ainda não foram implementadas.
A evolução do sistema governamental da Arábia Saudita reflete sua estrutura política e religiosa única, onde o poder sempre foi concentrado nas mãos do monarca. Nas últimas décadas, a Arábia Saudita tem buscado a modernização e a diversificação da economia, acompanhada de reformas graduais na área dos direitos das mulheres e mudanças sociais. No entanto, o sistema político do país permanece em grande parte inalterado, e a monarquia continua a ser a força dominante na administração do estado.