O sistema estatal de Portugal passou por muitas mudanças ao longo de sua longa história, desde um estado feudal até uma república moderna. A história de Portugal é uma história de luta pela independência, desenvolvimento de instituições políticas e evolução da forma de governo, tornando o país um dos mais únicos da Europa. Neste artigo, vamos examinar os principais marcos da evolução do sistema estatal de Portugal e os momentos-chave que definiram sua estrutura política moderna.
A história de Portugal como um estado independente começa no século XII. Em 1139, Afonso I, também conhecido como Afonso Henriques, foi proclamado rei de Portugal após libertar o território dos mouros. A criação de Portugal como um reino separado foi o resultado da gradual cristianização e da Reconquista, ou seja, a libertação de territórios na Península Ibérica dos muçulmanos.
Os primeiros séculos da existência de Portugal como um reino independente foram marcados pela monarquia, na qual o poder central estava concentrado nas mãos do rei. O sistema de governo era feudal, e as relações entre o rei e a nobreza eram baseadas nos princípios de vassalagem.
Ao longo dos séculos seguintes, Portugal continuou a se desenvolver como uma monarquia, e o papel do rei e da corte real permaneceu central na vida política. A partir do século XIII, a monarquia começou a se fortalecer, e o poder dos reis tornou-se gradualmente mais absoluto. Nos séculos XIV e XV, Portugal viveu seu apogeu, tornando-se uma das principais potências marítimas, graças às expedições de grandes navegadores, como Vasco da Gama e Afonso de Albuquerque.
No entanto, apesar do sucesso econômico e da expansão da influência, o sistema de governo permaneceu autoritário. Os princípios da monarquia absoluta eram característicos do final da Idade Média e do Renascimento, quando o poder do rei não era limitado por instituições legislativas ou executivas. Nesse período, também começou a gradual centralização do poder, que fortaleceu a autoridade real em várias partes do país.
No século XVI e XVII, Portugal enfrentou problemas internos e externos. A crise dinástica no início do século XVII, provocada pela morte do último rei da dinastia de Avis, levou a uma interrupção temporária da independência. Em 1580, Portugal foi absorvido pela Espanha em consequência da crise e da coroação de Filipe II. Portugal perdeu sua independência, o que teve um profundo impacto em seu sistema político.
No entanto, em 1640, Portugal recuperou sua independência quando uma revolta contra o domínio espanhol levou à restauração da dinastia de Bragança e ao retorno do país ao status de estado independente. Este evento marcou o início de um longo período de instabilidade política, durante o qual Portugal enfrentou dificuldades econômicas e lutas políticas pelo poder.
No século XVIII, Portugal passou por um período de estabilidade sob o governo da dinastia de Bragança, mas o poder central do rei ainda era forte e absoluto. A era do rei José I (1750-1777) e de seu primeiro-ministro Marquês de Pombal foi marcada por reformas destinadas a fortalecer a monarquia, desenvolver a economia e modernizar o país.
O Marquês de Pombal implementou ativamente reformas nas áreas da educação, economia, bem como nos setores judiciário e administrativo. Suas ações levaram à diminuição da influência da Igreja Católica e da aristocracia nos assuntos do governo, além de promoverem o desenvolvimento do comércio e da indústria. No entanto, a forte centralização do poder e o estilo autoritário de governo geraram descontentamento entre parte da população, o que levou à sua demissão após a morte do rei José I.
O século XIX foi um tempo de profundas mudanças políticas, quando Portugal passou por várias revoluções, transitando de uma monarquia absoluta para uma constitucional. Em 1820, ocorreu uma revolução em Portugal, que resultou na adoção da primeira constituição. O constitucionalismo em Portugal foi gradualmente se fortalecendo, apesar de conflitos internos e confrontos entre apoiadores de diferentes correntes políticas.
Em 1828, após a morte do rei João VI, começou uma guerra civil entre os apoiadores de Miguel, que reivindicava o trono, e os liberais que apoiavam um governo constitucional. A guerra terminou com a vitória dos liberais em 1834, e a partir desse momento, Portugal estabeleceu um governo monárquico constitucional com a criação de um parlamento.
No futuro, o país passou por períodos de instabilidade política e frequente troca de governo, o que foi acompanhado pelo desenvolvimento de partidos políticos e movimentos ideológicos. As reformas liberais levaram a mudanças significativas na vida social e econômica do país, embora a monarquia continuasse a existir, mesmo que em forma limitada.
No início do século XX, os protestos contra a monarquia e sua incapacidade de lidar com problemas econômicos e sociais aumentaram em Portugal. Em 1910, ocorreu uma revolução, que resultou na derrubada da monarquia e na proclam ação da República Portuguesa. Nos primeiros anos de existência da república, o país enfrentou instabilidade política, trocas frequentes de governo e dificuldades econômicas.
Em 1926, houve um golpe militar que estabeleceu um regime ditatorial sob a liderança de António de Salazar. Ele se tornou o líder de um governo autoritário que existiu até 1974. O regime de Salazar era voltado para uma rígida centralização do poder, controle da economia e repressão da oposição política.
No entanto, em 1974, ocorreu a Revolução dos Cravos, que levou à derrubada da ditadura e à estabelecimento de uma república democrática. Portugal fez a transição de um governo autoritário para uma república parlamentar, marcando o início de uma nova fase em sua vida política.
Portugal moderno é uma república parlamentar com instituições democráticas, baseada nos princípios de liberdade, igualdade e direitos humanos. A constituição de Portugal, adotada em 1976, estabelece os princípios fundamentais da estrutura do estado, garante direitos e liberdades civis, bem como a separação de poderes entre o executivo, legislativo e judiciário.
O presidente de Portugal é o chefe de estado e é eleito por cinco anos, embora seus poderes sejam principalmente cerimoniais. O poder executivo é exercido pelo governo, chefiado por um primeiro-ministro, que é nomeado pelo presidente, mas depende da maioria no parlamento. Portugal possui um parlamento bicameral, composto pela Assembleia da República (parlamento) e pelo Senado.
O sistema de partidos políticos em Portugal é diversificado, com partidos principais representando espectros que vão da esquerda à direita ideológica. Portugal participa ativamente de organizações internacionais, incluindo a União Europeia, a NATO e a ONU, o que influencia sua política interna e externa.
A evolução do sistema estatal de Portugal, desde a monarquia feudal até a moderna república parlamentar, é um exemplo de transformação política baseada em mudanças sociais e econômicas significativas. Portugal passou por muitas crises e revoluções, mas sempre encontrou um caminho para a estabilidade e transformações democráticas. Hoje, o país é uma das democracias mais estáveis da Europa, com instituições desenvolvidas e participação ativa na política internacional.